Derrotado na eleição para o Senado neste ano e alvo de investigações da Polícia Federal e Ministério Público, ex-governador de Goiás Marconi Perillo (PSDB) fechou um contrato para prestar serviços de consultoria à Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). O governador eleito de São Paulo, João Doria, também do PSDB, foi quem teria articulado a contratação de Perillo por ser amigo do presidente da empresa
O tucano, que chegou a concorrer à presidência do partido no ano passado e comandava um dos diretórios mais fortes da legenda, abriu uma empresa de consultoria junto com sua esposa, Valéria, e está prestando serviços para a CSN – que também empregou o ex-presidenciável Ciro Gomes (PDT) quando ele ficou sem cargo público.
A CSN confirmou, por meio de sua assessoria, que a empresa de Perillo – MV consultoria, aberta em julho – assinou um contrato, mas não informou qual tipo de consultoria ele prestará.
Conforme o Valor apurou, o governador eleito de São Paulo, João Doria, também do PSDB, foi quem teria articulado a contratação de Perillo. A informação foi confirmada por dois tucanos que pediram para não ter o nome identificado na reportagem.
Doria, amigo do presidente da CSN, Benjamin Steinbruch, negou que tenha ajudado o correligionário a arrumar um emprego na empresa e disse que não gostaria de comentar a contratação.
O Valor tentou contato com Perillo desde quarta-feira, mas ele demitiu os antigos assessores, não atende nos telefones indicados pelo PSDB de Goiás nem no celular registrado em sua empresa. O PSDB nacional, do qual é vice, não retornou o e-mail.
A ajuda para que Perillo se recolocasse na iniciativa privada após uma derrota acachapante em Goiás, onde o ex-governador por quatro mandatos terminou apenas em quinto lugar na eleição para o Senado, com 7% dos votos, é uma costura de Doria para contemplar os quadros da legenda e angariar mais apoio para comandar o PSDB em 2019.
O PSDB de Goiás era uma das bases mais fortes do partido e chegou a fazer seis deputados federais em 2014, quando Perillo se reelegeu. A partir de fevereiro, contudo, o diretório goiano perderá influência e terá apenas um deputado federal. Perillo era o nome de Doria para comandar o PSDB quando o então prefeito de São Paulo tentava viabilizar uma candidatura presidencial.
O grupo formado por Doria para controlar o partido e, num primeiro momento, apoiar o governo do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) é, justamente, formado por aliados de Perillo, do senador e deputado federal eleito Aécio Neves (MG) e do ex-governador do Paraná Beto Richa, além de deputados federais e senadores que aderiram sem restrições ao governo Temer.
O governador de São Paulo já acertou com o presidente do PSDB nacional, Geraldo Alckmin, a troca de comando do partido em maio, quando acaba o atual mandato. Alckmin, que registrou o pior resultado da história da legenda na eleição para a Presidência, avisou que não lutará para manter o cargo e nem se envolverá nas disputas internas da sigla. O mais provável, dizem aliados, é que deixe o PSDB.
Outros tucanos em condições de liderar o PSDB, como o senador Tasso Jereissati (CE), também sinalizaram em conversas estarem mais propensos a abandonar a legenda e se juntar ao movimento de refundação do PPS – que marcou para o 25 de janeiro a mudança de nome – e que espera receber a adesão do o apresentador de TV Luciano Huck, do ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung e do ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Um tucano diz que o PSDB se tornou “tóxico” após líderes como Perillo, Aécio e Reinaldo Azambuja – governador reeleito no Mato Grosso do Sul e aliado de Doria – se tornarem assunto das páginas policiais dos jornais. “Mas ninguém tem coragem de forçar a saída deles, então o mais provável é que um grupo saia”, afirma um dirigente.
“É como a piada do português no tiro de guerra. O comandante falou: quem se voluntaria a ir para a guerra dê um passo a frente. Todos deram um passo para trás e só sobrou o português”, disse.
O problema, afirmam os tucanos, é de falta de projeto de poder. A vitória de Bolsonaro tirou do partido a agenda econômica e o discurso de direita. “Ninguém apoia o centro, querem saber se você é contra ou a favor. A polarização que se desenha é entre Bolsonaro e o PT; o PSDB ficou sem perspectiva de poder nesse cenário”, afirma um integrante da Executiva do partido. Doria é quem tem mais capacidade de ser essa liderança, mas “terá que governar de verdade dessa vez” e, “provavelmente”, esperar oito anos para se colocar como alternativa de direita a Bolsonaro.
Fonte Valor Econômico