Para a promotoria, relato demonstra intenção sexual de religioso em “ritual de purificação”. Nesta quinta-feira (31), duas denúncias foram representadas contra o clérigo
A investigação do padre Iran Rodrigo Souza de Oliveira (foto), de 45 anos, conduzida pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) constatou que houve conjunção carnal entre ele e uma das vítimas. Para a promotoria, isso demonstra que, ao contrário do que era alegado pelo religioso, os toques tinham intenção sexual. Esse ponto foi ressaltado nas denúncias oferecidas contra o clérigo.
O religioso foi preso este mês, durante a Operação Sacrilégio que apurava as acusações de abuso sexual feitas por jovens de Americano do Brasil, município onde o religioso residiu há alguns anos. A prisão aconteceu em Caiapônia, cidade onde Iran Rodrigo respondia como pároco. Entretanto uma outra vítima foi descoberta em Adelândia, município a 108 quilômetros de Goiânia.
Segundo o depoimento da vítima, uma mulher de 28 anos atualmente, o padre praticou, por duas vezes, atos libidinosos contra ela, há sete anos. Durante uma confissão, ela relatou ao padre que sentia fortes de dores de cabeça. O religioso então disse que isso era originário dos ovários da mulher e poderia curá-la. Para abençoá-la, pediu que erguesse a blusa, colocou a mãos nos seios dela e depois pediu que as calças fossem abaixadas. Enquanto tocava o corpo da mulher, fazia sinais da cruz. Em outras duas vezes, de acordo com a vítima, ele a tocou dessa forma.
Anos depois, em janeiro de 2015, ao fazer uma nova confissão, a jovem relatou que havia perdido a virgindade com o namorado e se sentia uma pecadora. Neste momento, o padre Iran Rodrigo disse que poderia trazer a virgindade de volta através de um processo de “purificação”.
Ao chegar ao quarto paroquial, de acordo com a moça, ela ficou totalmente nua. O religioso acariciou partes de seu corpo, introduziu o dedo na genitália dela e ejaculou. Ao ser questionado, teria dito que o acontecido era “por Deus” e para a “purificação”. Em outro episódio, ele foi até a casa da vítima afirmando que ela estava afastada dele e do grupo. Invocando o nome de Deus, manteve conjunção carnal com a jovem.
Outras duas vítimas foram ouvidas pelo Ministério Público e relataram que, em 2014, após se confessarem para o padre relatando a perda da virgindade, também passaram pelo “ritual da purificação”.
Denúncia
O promotor Danni Sales Silva apresentou duas denúncias, de três vítimas, contra o padre por prática de atos libidinosos e conjunção carnal mediante fraude, além da aquisição, posse ou armazenamento de registro que contenha pornografia envolvendo criança ou adolescente.
Pedido de habeas corpus é negado
A defesa do Padre Iran Rodrigo Souza de Oliveira, de 45 anos, reitera que a tese a ser trabalhada é a de que a prática do clérigo, de solicitar as fotos a fiéis e realizar o toque no corpo, é algo religioso, sem nenhuma conotação sexual. Segundo o advogado Leonardo Couto Vilela, o cliente nega ter havido qualquer tipo de conjunção carnal com as fiéis.
De acordo com o defensor, Iran Rodrigo está surpreso com as declarações dadas por mulheres ao Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO).
O pedido de habeas corpus foi feito pela defesa e a liminar, negada. O padre, que foi detido no último dia 16, continua preso na Unidade Prisional de Anicuns, cidade a 83 quilômetros de Goiânia. Para sua defesa, Iran alega que possui um dom de cura pelo toque que deve ser feito onde ocorre o problema, por isso algumas vezes acontecia em partes íntimas.
Parecer será julgado em Roma
A Diocese de São Luís de Montes Belos, cidade a 131 quilômetros da capital, a qual está submetido o padre Iran Rodrigo Souza de Oliveira, de 45 anos, informou que ainda não teve acesso à denúncia do Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO). O religioso, preso durante a Operação Sacrilégio, foi denunciado por violação sexual mediante fraude e posse ou armazenamento de imagem com conteúdo sexual de crianças ou adolescentes.
O bispo diocesano Dom Carmelo Scampa reiterou que o processo interno, ao qual o membro da igreja foi submetido, continua em andamento. Logo após a sua prisão em 16 de agosto, Iran Rodrigo foi afastado de suas atividades na igreja.
Dom Carmelo disse que na investigação são ouvidas as vítimas, assim como as testemunhas, entre outras pessoas, para dar prosseguimento à averiguação. O parecer emitido pela comissão, formada por outros religiosos, será encaminhado para Roma onde será julgado. O bispo diocesano confirmou que a igreja tomou conhecimento das missas de cura realizadas por padre Iran Rodrigo, em Doverlândia, a 420 quilômetros de Goiânia, e reiterou a proibição por não ser de acordo com os dogmas católicos. “As missas de cura foram proibidas por meio de ofício”, frisa o clérigo.
Todavia, Dom Carmelo ressalta que não era de conhecimento da igreja que os procedimentos realizados para a suposta cura das fiéis envolvia toques em partes íntimas ou envio de fotos.
Fonte: O Popular